Estradas e Histórias

Caro(a) estudante,

Este paradidático foi escrito especialmente para você!

Este material foi produzido com a finalidade de ampliar o entendimento sobre o contexto histórico da construção da Belém-Brasília e os seus impactos, principalmente na região de Tupirama e Guaraí. Este material também foi concebido com o objetivo de apresentar os depoimentos dos moradores de Guaraí, que vivenciaram o período de construção da Belém-Brasília e seus anos posteriores, e que ainda vivem em nossa cidade, sendo eles: Constância Noronha Aguiar, Onildo Pereira de Souza, Izabel Dias Silva e Juceleide Barbosa da Silva. Desse modo, queremos compartilhar o registro da pluralidade de memórias sociais, culturais e populares da nossa região.

O material visa desenvolver atitudes relacionadas com a identificação de fontes históricas e com a seleção de informações como parte do processo da construção do conhecimento histórico. Por isso, você encontrará atividades relacionadas com fotografias, jornais e depoimentos orais, para que possa analisar, questionar e pesquisar fontes diversas. Assim, diante das leituras dos textos e do trabalho com as fontes, você pode sentir apto a contribuir ainda mais com a sua comunidade.

Você, certamente, irá gostar muito de conhecer novas histórias, fazer novas descobertas e adquirir novos conhecimentos!

– O autor

A Belém-Brasília e o local: o povoado Guará

A construção da Belém-Brasília não apenas conectou diferentes regiões do país, mas também estimulou a migração e o desenvolvimento de novos núcleos urbanos ao longo de seu percurso no território tocantinense, revelando importante impacto social. Desde a sua inauguração (1960) e pavimentação asfáltica (1974), houve um crescimento populacional no território do Tocantins, antigo norte goiano, conforme apontado por Aquino (2004). O autor utiliza dados do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística  (IBGE) de 1950 e de 1980, que mostram que a população na região passou de 204.041 para 738.688 habitantes. Com tal mudança, surgiram os centros urbanos de Araguaína, Colinas de Goiás, Guará, Miranorte, Paraíso do Norte, Gurupi, Alvorada, entre outros.De acordo com Aletícia R. Silva (2023), na época da criação da rodovia Belém-Brasília, considerado um fato importante para a história das migrações e construções de cidades no Tocantins, esta região era a parte norte do estado de Goiás. Portanto, ao escrever uma História Local e Regional de qualquer cidade nascida após a criação da rodovia no Tocantins, devemos evitar correr o risco de anacronismo:
Mapa de Goiás antes da separação entre Goiás e Tocantins.

O Tocantins foi criado oficialmente em 5 de outubro de 1988, separando-se de Goiás.

Nenhum morador desta terra se declararia tocantinense. Afinal, [não] existia o próprio estado do Tocantins. No entanto, alguns textos escritos logo após a criação do estado do Tocantins, elogiam o clamor popular pela emancipação, pela afirmação de uma identidade puramente tocantinense. Assim, chamamos atenção para que a História Local e Regional venha ser feita deixando bem claro que região é um termo referente ao território, visto como um espaço de luta e disputas políticas (SILVA, 2023, p. 251).

Dessa forma, compreendemos que a ‘identidade’, segundo Tomaz Tadeu da Silva (2000, p. 96), é construída socialmente, e esses processos influenciam as relações de poder em determinado espaço. Por sua vez, Silva (2023) afirma que muitas pessoas que migraram para as cidades do antigo norte goiano, como Colinas, Araguaína e Guaraí, há mais de 30 anos, ainda se identificam como maranhenses, piauienses e goianos. De modo semelhante, Aquino (2004, p. 340) alega que ‘a identidade do Tocantins é algo ainda em construção’, portanto,

[…] como se sabe, normalmente a maturidade de um processo de cunho cultural é “inaugurada” com algum estudo-síntese a respeito. Além disso, é preciso atentar para o fato de que outras regiões que foram ocupadas em épocas bem anteriores à do Tocantins ainda buscam afirmar sua verdadeira identidade, o que contribui para reforçar mais esta ideia de que o antigo norte de Goiás, hoje Estado do Tocantins, ainda se encontra em pleno processo de construção de sua identidade cultural (AQUINO, 2004, p. 340).

Levando em conta tais considerações, concentramo-nos na relação da Belém-Brasília com a formação da cidade de Guaraí. Sobre essa relação, a presença da estrada, que em 1960 impulsionou o crescimento populacional no povoado chamado Guará, no território de Tupirama (antigo Goiás), levou à criação da cidade de Guaraí em 1968 e, posteriormente, à sua emancipação política em relação a Tupirama em 1970. Na Figura 2, vemos a representação da configuração atual das cidades de Guaraí, Tupirama e Pedro Afonso, sendo que a primeira se localiza no eixo rodoviário da BR-153 (antiga Belém-Brasília/BR-14), e as duas restantes se encontram no eixo do rio Tocantins.

Figura 2: Mapa de Guaraí e região

Sobre o vínculo entre o povoado Guará e Tupirama, é necessário historicizar a cidade para compreender melhor as transformações do povoado. As informações sobre o histórico de Tupirama, reproduzidas pelos órgãos municipais, foram produzidas em 1958 pelo IBGE, que editou a coleção Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, por Jurandyr Pires Ferreira. A coleção teve como objetivo sistematizar informações estatísticas e geocientíficas do território nacional, com foco nos municípios, abordando aspectos físicos, como relevo, clima, vegetação e hidrografia, além de apresentar informações sobre características demográficas, socioeconômicas e históricas. Em relação ao histórico de Tupirama, a enciclopédia consta o seguinte trecho:

HISTÓRICO – em 1937, Leôncio de Souza Miranda, residente em Pedro Afonso, resolvera, dado o grande número de competidores no setor comercial, transferir-se para a margem esquerda do rio Tocantins em frente à cidade de Pedro Afonso, construiu três casas residenciais para si e seu pessoal, donde adveio o nome de Trindade, primeiro nome do povoado. Por influência do fundador, o lugarejo desenvolveu-se rapidamente e, com o sensível aumento da população a que vieram juntar-se diversas famílias do interior do Município, tornou-se capaz de erigir-se em vila. Assim é que, em 1938, Trindade era elevada à categoria de vila, por Gentil Veras, então prefeito municipal de Araguacema. Na organização do quadro Territorial do Estado fora substituído o nome de Trindade pelo de Tocantinópolis, denominação que também não demorou a ser substituída pelo nome de Tupirama, que continua até nossos dias. Tupirama teve sua fase de progresso arrefecida, mas, não obstante, graças aos esforços de seus principais chefes, em 1953 foi elevado à categoria de cidade, tendo-se verificado sua instalação no dia 1º de janeiro de 1954 (FERREIRA, 1958, v. 36, p. 429).

A partir desse histórico, inicialmente, destacamos que no início do século XIX, após o período de atividades auríferas no território do Tocantins, antigo norte goiano, diversas comunidades ribeirinhas surgiram e se estabeleceram ao longo dos séculos XIX e XX. Porto Nacional e Pedro Afonso, conforme destacado por Maria de Fátima Oliveira (2010, p. 14), desempenharam papéis de relevância como “importantes centros dinamizadores na região por longa data”. Por sua vez, Souza (2004) relata que no início do século XIX, Pedro Afonso era um centro importante de negócios no médio Araguaia e Tocantins, que tinha ligações comerciais com Belém (PA) e São Luís (MA) e, mais tarde, Bahia.

Em relação aos movimentos de migrações, a região norte de Goiás, com destaque para localidades como Porto Nacional, Tocantinópolis e Pedro Afonso, juntamente com toda a margem esquerda do rio Tocantins, experimentou a chegada de imigrantes provenientes da Bahia, do Piauí, do Maranhão e do Pará durante o século XIX. Nesse período, também surgiram núcleos urbanos a partir de atividades auríferas e agropastoris, sob diversos aspectos tais como fazendas, colonização, bens materiais e paroquiais, loteamento rurais etc.

Por outro lado, no início do século XX, ocorreram os fluxos migratórios espontâneos, nos quais a iniciativa de migrar partiu dos próprios interessados, motivados por diversos fatores e sem a interferência do Estado. Como vimos, também houve um fluxo dirigido pelo governo a partir da criação de Colônias Agrícolas e da campanha política “Marcha para o Oeste” na década de 1940. Contudo, em virtude das dificuldades de comunicação entre as regiões norte e sul do Estado de Goiás e da limitada geração de riqueza resultante do comércio estabelecido entre as áreas rurais e os poucos núcleos urbanos, não se formavam centros urbanos de significativa expressão.

Após compreender a importância de Pedro Afonso como centro comercial, os movimentos migratórios, a formação de núcleos urbanos, a constituição de fazendas e suas atividades agropastoris, vamos ampliar a análise sobre como foi o processo de formação e de transformação do povoado Guará, vinculado a Tupirama no final das décadas de 1950 até sua emancipação política no início da década de 1970.

As antigas fazendas pertencentes a Pacífico Silva, localizada na parte norte e Antônio Mendes Ribeiro, na parte sul do atual município, se desenvolveram a partir da construção da Belém-Brasília em 1959. Para entender melhor a origem dessas fazendas e o começo do povoado, visitamos o morador de Guaraí, Lourenço Ferreira Lima, de 85 anos, em sua residência no dia 06 de agosto de 2022. Lourenço é de Pedreiras, Maranhão e exerceu o cargo de secretário da Câmara Municipal da cidade de Tupirama, por meio da Portaria nº 01/55, de 02 de fevereiro de 1955. A entrevista ocorreu no seu escritório, onde ele demonstrou bastante interesse em compartilhar suas memórias. Sobre as raízes da fazenda Guará, Lourenço descreve como foi o processo de ocupação e compra da fazenda:

Serafim Pereira, no ano de 1920, deixou sua terra no lugar denominado Estreito no estado do Maranhão e aqui chegando, apossou-se das terras que mais tarde denominaram-se de “Fazenda Guará”, em virtude [de] haver na localidade muitos lobos-guará. Aqui residiu até o ano de 1939, quando vendeu a fazenda para o Sr. José Alves de Sousa, este vindo da cidade de Loreto, estado do Maranhão. De fazenda, somente o gado foi vendido e as terras lhe foram doadas pelo Sr. Serafim Pereira, cuja posse se efetivou somente em 1940 ou 1941. Com a morte do Sr. José Alves de Sousa, Félix Pestana recebeu a Fazenda Guará por herança de seu pai. Félix Pestana, mais tarde, vendeu a referida fazenda para o Sr. Joaquim Ferro e esse vendeu-a para o Sr. Antônio Mendes Ribeiro por 1.000$000,00 (um conto de réis). Em data de 10 do mês de fevereiro de 1954, O Sr. Antônio Mendes Ribeiro vendeu para o Sr. Pacífico Silva a parte norte da fazenda epigrafada, pelo valor de CR$ 20.000,00 (vinte mil cruzeiros), cujo pagamento se efetivou em data de 01 de novembro de 1954.

Como se observa, a específica fazenda teve diferentes proprietários e moradores entre 1920 e 1954. A chegada de imigrantes, sobretudo do Maranhão, pode ser entendida a partir do contexto dos fluxos migratórios espontâneos, no início do século XX, atraídos por melhores condições de vida. Sobre as principais atividades econômicas desenvolvidas naquela época na região de Tupirama e fazenda Guará, Souza (1997) menciona a agricultura, a pecuária e o extrativismo vegetal (babaçu). De acordo com o mesmo autor, apesar de a lavoura ser pouco desenvolvida, as produções de arroz e milho eram destinadas aos estados de Maranhão e Piauí, enquanto a pecuária era destinada à cidade de Pedro Afonso, onde se abatia o gado e preparava-se a carne para ser levada de avião para a cidade de Belém do Pará.

Devido à falta de uma rodovia para conectar os principais centros urbanos naquela época, a medida adotada foi a abertura de pista de pouso em muitos lugares, onde fosse possível realizar as trocas comerciais a partir de voos. Assim, para que a política econômica adotada pelo governo de JK fosse efetivada, visando à integração nacional e o desenvolvimento do país, deu-se início à construção do eixo rodoviário Belém-Brasília. Dessa maneira, a abertura da rodovia se transformou no polo de atração da população de Tupirama e diversas regiões.

De acordo com os dados censitários do IBGE, a população de Tupirama era de 5.211 pessoas no censo de 1950, com aumento significativo para 8.350 pessoas no censo de 1960. Nesse contexto, após comprar a parte norte da fazenda Guará, o fazendeiro Pacífico Silva empenhou esforços para trazer seus familiares do Piauí para morar na região. Mas, de acordo com Souza (1997, p. 99), “somente com a abertura da Rodovia Belém-Brasília, que passava por considerável extensão de sua fazenda, é que realmente começou o povoado Guará, no início de 1959”.

Com a instalação da rodovia, a fazenda Guará ficou entre os trechos de Cercadinho (atual Barrolândia) e Araguaína, sob a supervisão do engenheiro George Yunes, o “Gaúcho”. Ele decidiu instalar um acampamento para supervisão da obra da estrada nas terras de Antônio Mendes Ribeiro, que perdurou de 1959 a 1964. Nesse acampamento, contava-se com a presença de médicos e dentistas, escassos naquela região, o que atraiu diversas pessoas para receber atendimento no acampamento, principalmente de malária, uma doença comum na época.

Em seguida, o perfil da migração regional passou a ser, predominantemente, nordestino. Registros do censo demográfico de 1970 (IBGE, 1970) informam que os estados do Maranhão, Piauí e Ceará tiveram a maior participação de imigrantes nos municípios atravessados pela rodovia, conforme mencionam Arrais, Castilho e Aurélio Neto (2016). Para os autores, a relação da região com os três estados justifica-se pela proximidade, fazendo fronteira com o Maranhão e tendo acesso, por meio de ligações de estradas de rodagem, ao Piauí e ao Ceará. Essa conexão estabeleceu-se também devido às dificuldades encontradas nas zonas do semiárido nordestino, resultando em um intenso movimento migratório. Esse processo foi motivado pelo trabalho em pelo menos três segmentos, os quais estavam plenamente articulados.

O primeiro, como bem anotou Machado (1979), para força de trabalho em função da abertura de fazendas, derrubada de matas e formação de pastos em região típica de fronteira. O segundo respondeu pelos trabalhos ligados às empresas contratadas para os serviços de construção da rodovia (abertura do leito principal, aterros, terraplanagem etc.). E o terceiro para atividades de suporte, a exemplo do comércio (pequenas vendas, hospedarias, restaurantes, bares etc.) e dos serviços (borracharias, postos de abastecimento etc.) que surgiam em vários pontos da rodovia (ARRAIS; CASTILHO; AURÉLIO NETO, 2016, p. 67-68).

Apesar da promessa de progresso e modernidade associadas à instalação da rodovia, a região não experimentou imediatamente tais benefícios. Em décadas posteriores, especificamente na década de 70, quando a rodovia foi asfaltada, os municípios do norte goiano-tocantinense ainda exibiam uma economia predominantemente centrada em atividades primárias e pouco mecanizada, aspectos similares aos registrados no início do século XX.

Além da procura de trabalho na região, houve outras motivações de migração. Por exemplo, o casal Ananias Neri de Barros e Claudina Neri de Barros deixaram Brasília e compraram uma fazenda na região do povoado Guará com propósitos missionários. Anos depois, o casal ergueu na recém-criada cidade de Guaraí (antigo povoado) um hotel chamado Itamarati e uma loja de material de construção chamada “Construção Barros” em 1972 e que foi aberta ao público em 1973. De acordo com Claudina, o principal motivo da sua mudança e o estabelecimento do comércio local foi a evangelização.

Em Guaraí começamos outra igreja. Como Nani [sua filha] queria ir para Guaraí logo, vi a oportunidade de fincar a bandeira de Cristo ali. Guaraí foi o futuro para nós, comecei no hotel o trabalho de Deus, em uma sala que o meu esposo me deu (BARROS, 2016, p. 49).

Na Figura 3, retirada do próprio livro de memória da Claudina, vemos um bar, o Itamarati Hotel e a Construção Barros em frente da Belém-Brasília antes de ser asfaltada. Atualmente, esse trecho da rodovia se localiza na esquina da Avenida Brasil, em Guaraí, onde se encontram outros estabelecimentos comerciais.

Imagem paisagem de um esquina de um bar. Na frente do estabelecimento tem um carro verde.
Figura 3: Estabelecimento bar e Itamarati Hotel, Guaraí, 1972
 
Título:Estabelecimento bar e Itamarati Hotel, Guaraí, 1972
Tipo de documento:fotografia, 1973
Local:Rodovia Belém-Brasília, Centro. Guaraí (TO)
Sobre:Crescimento urbano, comércios e migração
Técnica:Panorâmica
Origem:Guaraí Notícias. Arquivo pessoal do correspondente Marcelo Gris (2023)

Portanto, a criação do povoado não pode ser considerada um fenômeno automático resultante da Belém-Brasília. Houve vários fatores que influenciaram a sua formação, como a existência de várias fazendas e famílias na região, como as terras do Pacífico Silva e de Antônio Mendes Ribeiro, bem como a presença de médicos e dentistas nos acampamentos instalados pela Rodobrás. Também foi demonstrado que antes da construção da rodovia, houve movimentos de migrações, sejam de interesses particulares ou fomentadas pelo Estado, para a região no início do século XX. Logo, devemos considerar esses fatores nas suas diferenças e conexões entre si no estudo do local.

Poesia elaborada pela aluna Ingrid Lorrane Rodrigues Dias, foi declamada no Centro de Ensino Médio Oquerlina Torres, no dia 12 de abril de 2023.

“Guaraí, cidade festiva
bastante atrativa
que tem como base
um povo disposto
Sua beleza se revela
nessas praças tão belas,
nos manguezais perto da rodovia,
e no amanhecer do dia
Cidade de muita simplicidade,
mas também muito valor
pois traz toda história
de um povo lutador
Amor e muita bondade
essa é minha cidade
aqui é o meu lugar
onde quero sempre estar”

Fonte: texto escrito por Ingrid Lorrane Rodrigues Dias, 2023

Um espaço de lutas e interesses: a emancipação política do povoado

No tocante à criação da cidade de Guaraí em 1968 e sua emancipação política em 1970, tornou-se um espaço de lutas e de interesses políticos, conforme constata Souza (1997). Os vereadores tentaram várias vezes transferir a sede administrativa do município de Tupirama para Guaraí, devido à presença do eixo rodoviário Belém-Brasília, mas sem sucesso em administrações anteriores. Desde o mandato de Leôncio de Souza Miranda (1960-1961) até a gestão de Pacífico Silva (1962-1965), houve defensores do movimento político pela transferência.

Para ampliar a reflexão sobre o contexto, precisamos compreender o cenário político nacional e regional da época de 1960 até 1970. Em relação à história do Brasil, na sucessão de Juscelino, tivemos Jânio Quadros no poder por um ano em 1961, pois devido a suas medidas impopulares e à falta de apoio político e da imprensa, decidiu renunciar à presidência em 25 de agosto daquele mesmo ano. Em seguida, o vice João Goulart assumiu o poder da República, mesmo que um grupo considerável de ministros, militares, políticos da oposição e grandes empresários fossem contra a sua posse, e permaneceu até 1964.

O Brasil viveu um período democrático entre 1946 e 1964. Neste ano, militares e setores conservadores da sociedade, uniram-se para depor o presidente João Goulart e instalar um governo ditatorial liderado pelos militares. O período ditatorial estendeu-se por mais de duas décadas, acabando com a liberdade de imprensa e de expressão, estabelecendo a censura e a perseguição do governo aos seus inimigos políticos.


Durante o período ditatorial, o Brasil foi governado por meio de Atos Institucionais, decretos que tinham a validade de leis constitucionais e que estavam acima de quaisquer outros poderes. Os AIs, como são conhecidos, não passavam por qualquer votação política para serem aprovados e implementados, garantindo com isso o caráter ditatorial do regime. Ao todo, o Brasil teve 17 Atos Institucionais.

Durante o governo de João Goulart (1961-1964), Mauro Borges Teixeira, eleito governador do Estado de Goiás em 1960 pelo Partido Social Democrático (PSD), assumiu o cargo para um mandato de cinco anos em 31 de janeiro de 1961. No entanto, seu mandato foi cassado em 26 de novembro de 1964, em decorrência do Golpe de Estado civil-militar daquele mesmo ano. Para substituí-lo, foi nomeado o interventor federal Carlos de Meira Mattos.

Em seguida, após a instalação da ditadura militar em 1964, durante o governo de Castelo Branco (1964-1967), Otávio Lage foi eleito governador pela União Democrática Nacional (UDN) em 1965, substituindo o interventor federal Emílio Rodrigues Ribas Junior. Ele conclui o mandato em 15 de março de 1971. Ainda em 1965, porém, foi decretado o Ato Institucional nº 2, conferindo mais poderes ao presidente e extinguindo todos os partidos políticos existentes, criando apenas dois: a Aliança Renovadora Nacional (Arena), como apoiadora do governo, e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), destinado a fazer uma oposição moderada.

Em relação à política em âmbito local e regional, o major Juvenal Pereira de Souza e o presidente da Câmara, Lourenço Ferreira Lima, lideraram um movimento para agilizar a transferência da sede de Guaraí. Após uma audiência com o Deputado José Carneiro Vaz em Goiânia, obtiveram o compromisso de submeter o projeto à Assembleia Legislativa. Em uma reunião extraordinária, o projeto foi aprovado e sancionado pelo governador Otávio Lage, tornando-se a Lei nº 7.117, de 05 de novembro de 1968, que autorizou a transferência da sede do município a partir de janeiro de 1969.

Todavia, a transferência não aconteceu de imediato pois, de acordo com Souza (1997, p. 112), o prefeito José Reis Cavalcante era contra a transferência da sede, e não assinou a lei, alegando que não havia condições da sede funcionar no povoado, por não existir prédio para a prefeitura e demais dependências”. Dessa maneira, a postura do prefeito causou uma divergência política dentro do MDB.

Porém, o presidente do diretório do MDB, Pacífico Silva, mostrou-se favorável à mudança da sede, uma vez que as terras onde se desenvolvia o povoado eram de sua propriedade. Por esse motivo, ele passou a apoiar o candidato Osvaldo Dantas de Sá, da Arena, que se comprometeu a efetuar a transferência da sede. Assim, Osvaldo Dantas de Sá foi eleito pela Arena e contou com o apoio de boa parte do MDB, assumindo o cargo em 1º de fevereiro de 1970. A mudança da sede foi concretizada em 11 de abril de 1970.

De olho na imagem

Imagem estilo paisagem. É possível ver uma grande faixa de terra batida e ao centro várias pessoas e pequenas casas.
Título:Transferência da sede administrativa de Tupirama para Guaraí
Tipo de documento:fotografia, 11 de abril de 1970
Local:Av. Araguaia, Centro. Guaraí (TO)
Sobre:Emancipação política de Guaraí (TO)
Técnica:Panorâmica
Origem:Guaraí Notícias. Veja 10 curiosidades de Guaraí, município do interior do Tocantins, que completa 52 anos em 2022. Disponível em: Link aqui. Acesso em: 22/03/2023

Portanto, diversos e diferentes fatores contribuíram com a formação do povoado Guará (1960) e sua emancipação política (1970).

Interpretando Fontes – Jornal

Título:Tupyrama não é Guaraí (1970) – Correio Braziliense (DF)
Tipo de documento:Jornal
Data do documento:4 de janeiro de 1970
Origem:ASSIS CHATEAUBRIAND (org.). Resenha dos municípios: Tupyrama não é Guaraí. Correio Braziliense. Brasília, 4 jan. 1970. p. 7-7. Disponível em: Link aqui. Acesso em: 09 jul. 2022.

Tupyrama [sic]não é Guaraí. Em conversa com o Prefeito José Reis Cavalcante, de Tupirama, ficamos sabendo que a denominação de Tupirama não será mudada para Guaraí, como pretende alguns afoitos do município. Podem mudar a sede, mas não mudem o nome, gente, Tupyrama [SIC] é brasileiríssimo é nosso e já é parte do fabuloso rio Tocantins.